Mostrando postagens com marcador cultura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cultura. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ser cult é ser cu

O cult é um ser que vai na contramão de tudo. Também conhecido como pseudo-intelectual, ele despreza qualquer tipo de legítima manifestação popular. Não assiste TV, reality-shows e ouve Radiohead, Chico Buarque e Los Hermanos, na fé de que isso é um som inteligente. Admira filmes de arte, principalmente os europeus, e critica sistematicamente as produções Hollywoodianas.

Ele tem respostas para tudo, apesar de não ter vivido quase nada; mas acredita em ter aprendido tudo nos livros, na filosofia de Kafka, Proust e nas poesias que lê. Em consequência disso, ou torna-se um grande utópico, defensor de uma causa ou surte do efeito contrário: torna-se um desacreditado. Invariavelmente, torna-se um chato.

Por tanto, acredita estar em um nível cultural mais elevado que o resto da massa, apesar de, na maioria das vezes, ser um fodido, pois cultura não dá dinheiro pra ninguém.

Para o cult, modismos são desprezíveis. Todos. Apesar de ser cult ser também estar na moda.

Um cult pode estar bem ao seu lado, neste exato momento, vivendo em um mundo só dele. E ele te despreza.

Cult não começa com 'cu' por acaso.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ditadura cultural

Ontem à noite, a APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música) fechou a 'Discografias' - maior comunidade para troca de arquivos musicais do Orkut. Em comunicado oficial - que pode ser acessado neste link - eles dizem que a comunidade ignora 'todos os canais legais de divulgação e uma cadeia produtiva de compositores, autores, cantores, produtores fonográficos e etc.'

Agora, analisemos com calma. Quem é do meio musical sabe que, os artistas em geral, ganham pouco ou quase nada com a venda de CDs; vendas essas que estão cada vez mais em baixa. As gravadoras, então, adotam cada vez mais a política de reter o lucro dessas vendas, fazendo com que a maioria dos artistas sobrevivam apenas de seus shows. Insistem, então, no manjado discurso de defesa cultural.

Mas alguém acredita realmente nas boas intenções destas associações? Eles fazem exatamente o contrário do que pregam. Eu me pergunto, amigos, onde está a cultura que eles tanto falam? Nos cds de pagode, sertanejo e axé que eles vendem? Ou talvez nos cds do King Crimson, Tribal Tech, e para ilustrar exemplos nacionais, Egberto Gismonti e Eumir Deodato? Estes álbuns, meus caros, vocês sequer encontram nas prateleiras das lojas. Se você quiser um disco do Eumir Deodato, terá que chegar ao cúmulo de importar de fora, mesmo sendo ele um artista brasileiro. Cadê a defesa à cultura?

Como todo bom apreciador de música e ouvinte, sempre compro álbuns de meus artistas favoritos, até mesmo quando não existem edições nacionais e é necessário importar, pagando-se um absurdo. Pois bem, já que não distribuem certos cds aqui, me sinto no direito de ouvir antes de efetuar a compra. Sinceramente, vejo as coisas por outro lado: a internet ajuda, e muito, a descobrir novos artistas. Muitos cds, os quais eu adquiri, não teria sequer conhecido, se não fosse pela ajuda da grande rede.

Então, eu questiono: é justo utilizar dos tais meios legais, que só ajudam a incentivar o monopólio dos grandes e massacram os pequenos artistas? Eu penso que não, e acredito ser sórdido utilizar de tal artimanha legal para defender tamanha injustiça.

Enfim, me pergunto então o que as gravadoras estão fazendo, nos ditos canais legais, para divulgar a tal cadeia produtiva de compositores, autores, cantores e artistas, que eles tanto falam. O que eu mais vejo sendo promovido por eles é o descaso com a cultura no Brasil, que insiste em deixar às traças tudo o que temos de bom e original, e vendem porcarias como pagode e sertanejo. Eles precisam mudar o discurso porque, com essas atitudes, eles só agem em defesa aos próprios bolsos. Que assumam isso então. Evitaria nossa perda de tempo com tanta prolixidade e discurso vazio.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Quem é o inimigo então?

Em sua história, o mundo sempre foi marcado por guerras e regimes totalitários. Já tivemos Lênin, Hitler, Fidel e muitos outros. Ainda há resquícios desta, já quase morta tendência, representada atualmente por caras como Hugo Chávez. O mundo agora é diferente. Os grandes líderes perceberam que esses regimes não conseguem se sustentar de forma a prosperar. Assume-se então uma postura democrática, onde, em tese, o povo é então responsável pela escolha dos seus líderes e legisladores. Surgem então o direito às greves e protestos. É a liberdade de expressão. O processo de impeachment, então, passa a ser previsto em texto constitucional.

Há quem diga que a democracia é a pior forma de governo excetuando-se todas as outras. Nem sei se as outras são melhores, mas a democracia com certeza é uma grande presepada. Afinal, é historicamente burro confiar decisões importantes nas mãos da maioria. Foi a maioria que mandou crucificarem Jesus Cristo, assim como, nas primeiras eleições diretas, em 1988, elegeu Fernando Collor, que, aliás, continua sendo eleito até hoje para outros cargos. Um viva à decisão popular.

Ao invés de guerras declaradas e teorias de ódio puro, temos agora inimigos invisíveis. O mundo foi tomado pelo terrorismo. É a maior prova da fragilidade do que se convenciona a chamar de poder. Não é possível se preparar, quando não se sabe de onde que vem o tiro. De nada adianta mais tanta ostentação. Nossos castelos são todos de areia.

Por mais que digam o contrário, acredito que o mundo está cada vez mais humanizado. Continuamos sendo oprimidos diariamente ao bombardeio de sensacionalismo e opiniões tendênciosas, jogadas pela mídia em nossos televisores e jornais. Mas nem de longe é comparável com a opressão declarada de tempos atrás. Hoje somos mais livres, e, por mais que possa ser contraditório, o homem assume sua natureza negando-se, talvez por inconformidade com o existencialismo. Fumamos demais, bebemos demais. Assumimos conscientemente o desejo de ficar inconscientes.

Isso me faz pensar que, em tempos de ditadura, que pareciam tão cruéis, na verdade tudo era mais fácil. Pelo menos os papéis estavam mais claros. Sabiamos quem era o inimigo, tinhamos aonde depositar nossas culpas. Hoje não sabemos. Não existe mais bem e mal. O bem e o mal são diferentes faces de uma mesma moeda. Continuamos tomando na cabeça todo dia, pelo inimigo mais covarde que já se teve notícia. Não por sua força, mas porque dele não se sabe nem o nome.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Créu pra vocês

Eu não sou daqueles que se acham no direito de críticar - com argumentos vazios, só para bancar de espertão - as 'produções artísticas enlatadas' e, muito menos, quem se diverte com elas. Antes de qualquer coisa, acredito que música, cinema, televisão e literatura devem estar, também, à serviço do entretenimento barato. Sim, falo do entretenimento em sua forma mais banal mesmo. Reunir os amigos para assistir um filme pastelão e jogar pipoca na fileira da frente é muito bom. Às vezes, o que mais queremos é apenas aliviar o stress da caótica metrópole. Até o cérebro precisa de descanso.

Mas, como dizia o poeta, tudo o que é em excesso faz mal. E, neste caso, tem gente esquencendo seus cérebros. Coitados. Se fosse possível tirar o cérebro da cabeça, aposto que teriam muitos jogados ao lado de discos de jazz e livros de filosofia, em algum desses pontos que ninguém visita por aí. 'Créu' deixou de ser entretenimento, virou modelo cultural. Para alguns ainda é estilo de vida. E não há como escapar disso: se você não sai dando 'créu' em todo mundo, a vida vem e dá um 'créu' em você. You're in the jungle, baby!

Hoje os maiores fabricantes de artistas são os cirurgiões plásticos. A protagonista é a bunda. E a arte que ela vem produzindo para o mundo é proporcional àquela que ela produz no banheiro. Pensando bem, é genial: é a representação fiel de tudo que mais vem acontecendo por aí.

O fato é que a cultura tem fins muito nobres; nos instiga a pensar, a fugir da alienação imposta pelas longas jornadas de trabalho e da mídia manipulada à gosto de quem está lá em cima. A música no Brasil, por exemplo, foi a porta-voz de diversos movimentos populares. Muitos foram exilados, teve gente que morreu. Mas graças à estes, que impulsionaram o bravo povo, devemos nossa liberdade. Sim, eu devo à eles o ato de escrever aqui hoje.

Enfim, os frutos da alienação cultural não tardam à aparecer: caos nos serviços públicos, assistidos de camarote, por quem mal sabe o que está acontecendo; como se estivessem assistindo à uma partida de rugby, achando tudo chato, mas sem saber porque o jogo para toda hora. O brasileiro está cansado. Mas está tão cansado que mal tem disposição pra se informar do que acontece lá fora. Está descrente de si. Mas, no fundo, ele sabe que a luta é interminável e que o melhor negócio é 'esquecer os problemas' - como tanto prega uma cantora por aí. Mas toda a poeira ainda está lá, debaixo do tapete, conquistando seu espaço; o seu, o meu e o de todos nós.