segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sobre ser humano

O ser humano é um ser naturalmente confuso, ao contrário do que os rótulos de propaganda sugerem. É por isso que, em determinada época em que cheguei a estudar filosofia, acabei chegando a uma sistemática bastante satisfatória, relativa à definição do homem e de como se formam seus valores, talentos e personalidade em geral. Proponho então, nos parágrafos seguintes, uma reflexão sobre a real natureza do homem.

Pois bem, diversas correntes surgiram, como o determinismo biológico - que diz que o ser define-se por sua natureza. E o determinismo geográfico - que atribui a definição do ser ao ambiente em que este convive. O fato é que, levar a ferro e fogo aquela ou esta corrente de pensamento, é deveras categórico; e é impossível ser categórico quando estamos falando de relações humanas.

Proponho então, a definição por três tipos de fatores: biológico, social e psicológico que, de forma sorrateira, definirei como o que você é, o que os outros querem que você seja/pensam que você é, e o que você pensa ser. Estes são fatores que, invariavelmente, nos afetam diretamente e o principal é saber que nunca são axiologicamente iguais.

Visualizando isto, chega-se a conclusão que a vida é deveras complexa e exige um equilíbrio de tais fatores. Mas isso não acontece: o mundo faz as pessoas colocarem máscaras o tempo todo. Para ser mais preciso: Pessoas fazem pessoas colocar máscaras o tempo todo. Seja no trabalho, com os amigos, parentes. É inevitável não adotar certos padrões de conduta que o fortalecem perante o meio social, mas o enfraquecem enquanto ser.

Religiosos então, são um caso bem caricato: eles agem estabelecendo padrões de conduta, e, principalmente, utilizando de meios que tornam seus dogmas inquestionáveis, a partir do argumento da fé. Fé nada mais é que acreditar em algo, sem ter a menor evidência de sua existência, mas acreditar acima de tudo. Então, muitos se associam a religiões, visando o paraíso. Mas, na verdade, são poucos os que seguem seus dogmas; a maioria continua a usar máscaras na tentativa de ser alguém que não é.

No mundo contemporâneo, visa-se muito a aplicação de rótulos, para qualquer coisa. Tribos urbanas, música, cinema, comida... Enfim, qualquer coisa mesmo! Pessoas abdicam de ser o que são para seguir determinados padrões, que não foram pensados por elas. E o pior: começam a seguir determinadas ideologias que não foram idealizadas por elas. Isso significa que há alguém pensando por uma grande massa. E que, neste ponto, o homem médio não está tão distante assim de suas criações, como as máquinas.

Não é preciso ir longe para perceber que o ser humano cada vez mais, pensa menos. Blogs já foram alvo de críticas por serem rasos quanto ao seu conteúdo e, na maioria das vezes, escrito por pessoas não especializadas. Pois passa-se um tempo, o twitter (um mini-blog) vira moda, e desbanca os blogs tradicionais. Hoje, o que vem dominando são os videocasts. Ou seja, agora ninguém mais precisa ler nada. Escrever errado na internet é coisa do passado, pois hoje nem se escreve mais! Avanço ou retrocesso? Se o assunto for tecnologia, certamente é um avanço; mas é um retrocesso do ponto de vista do conteúdo, que torna-se cada vez mais raso. Parecemos ser escravos de nossas próprias praticidades.

O último parágrafo é sempre reservado a uma conclusão. Pois bem, se eu tivesse uma solução sobre tal problemática, engarrafava e vendia. O fato é que, o cotidiano nos faz priorizar o lado social em detrimento das próprias vontades. O ser humano precisa de aprovação o tempo inteiro. E não é diferente comigo, só porque escrevo este texto.

- Você não é o que você tem;
- Você não é onde você mora;
- Você não é o time de futebol pra quem torce;
- Você não é a sua religião;
- Não é a música que ouve, nem o livro que lê.

Essas associações, como as que exemplifiquei acima, são perigosas: elas fazem com que você deixe de pensar por si, para seguir um dogma qualquer, baseado em um padrão de comportamento qualquer, que você definitivamente não é responsável. É, no máximo, apenas mais um tijolo na parede.Talvez isso explique os altíssimos índices de depressão e enfermidades de nosso tempo. Olhar um pouco mais pra si e deixar de lado as máscaras, talvez seja uma solução. Pois é graças aos que fomentam esse sistema, que vivemos em um mundo tão mesquinho e focado em dinheiro. E ninguém nasce assim: é o meio que forma o mal indivíduo.

"O homem nasce naturalmente bom, a sociedade é que o corrompe".

- Jean-Jacques Rousseau.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ser cult é ser cu

O cult é um ser que vai na contramão de tudo. Também conhecido como pseudo-intelectual, ele despreza qualquer tipo de legítima manifestação popular. Não assiste TV, reality-shows e ouve Radiohead, Chico Buarque e Los Hermanos, na fé de que isso é um som inteligente. Admira filmes de arte, principalmente os europeus, e critica sistematicamente as produções Hollywoodianas.

Ele tem respostas para tudo, apesar de não ter vivido quase nada; mas acredita em ter aprendido tudo nos livros, na filosofia de Kafka, Proust e nas poesias que lê. Em consequência disso, ou torna-se um grande utópico, defensor de uma causa ou surte do efeito contrário: torna-se um desacreditado. Invariavelmente, torna-se um chato.

Por tanto, acredita estar em um nível cultural mais elevado que o resto da massa, apesar de, na maioria das vezes, ser um fodido, pois cultura não dá dinheiro pra ninguém.

Para o cult, modismos são desprezíveis. Todos. Apesar de ser cult ser também estar na moda.

Um cult pode estar bem ao seu lado, neste exato momento, vivendo em um mundo só dele. E ele te despreza.

Cult não começa com 'cu' por acaso.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Politicagem e instinto coletivo

O ano começa tenso nos noticiários. Enchentes e nevascas tomam conta dos mais variados meios de venda de exploração da tragédia alheia comunicação pelo país. Em Angra dos Reis, a contagem do número de corpos torna-se mais importante do que mobilizar soluções pontuais aos problemas, que agora são grandes na região. Enquanto isso, o telespectador lamenta. Ao menos, até o momento da primeira colherada no jantar.

O fato é que nosso planeta está adoecendo aos poucos. Convenções que mobilizam grandes líderes mundiais para tratar de temas que envolvem essas questões, não chamam a menor atenção da mídia sensacionalista. Eles querem mais é ver o circo pegar fogo. É difícil admitir isso, mas há aqueles que torcem pela tragédia.
  
Sabendo agora que a mídia só se manifesta em questões que envolvam comoção popular e, consequentemente, lucro, quais os meios que temos para mudar esse pensamento e fazer algo de bom por nós mesmos? Política. Mas aqueles, que deveriam ser os agentes da transformação, acham política chato. Eu vos digo: Todos nós fomos "programados" durante anos para achar política chato. E isso é um pensamento coletivo que interessa a quem está no poder. Os deputados de Brasília, andando em seus carros importados e comendo em restaurantes caros, que vos digam!

O fato é que todas as coisas perderam seu significado, para girar em torno do mercado. Nem a data de nascimento de Jesus Cristo foi poupada disso. Nós deixamos de sentir e passamos a consumir tragédia, comédia, amor, louvor. E é triste ver como nos tornamos operários desse sistema. Mas não se esqueçam, o Carnaval está aí, hein?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sobre estrelas

Vivo em uma caótica metrópole, onde a fumaça e o ronco dos motores muitas vezes cobrem tudo aquilo que a natureza tem de mais belo a mostrar. E mesmo diante de tanto ceticismo e superficialidade que insiste a nos cercar durante o dia, não pude deixar de notar que, de um tempo pra cá, o céu brilha mais estrelado.

Talvez seja um fenômemo personalíssimo. De qualquer forma, não são estrelas comuns. São daquelas capazes de rir. Mas há uma em especial que vive a instigar sonhos, desejos e sentimentos. Sentimentos que despertam a nostalgia de outrora, dada sua pureza.

É um verdadeiro presente, mas que, como todos os outros, exige cuidados. Meu ônus é fazer com que essa estrela não se apague jamais, que continue a sorrir sempre. É de minha obrigação inventar novas formas de alimentar seu brilho, pois este continua a me iluminar mesmo após ao raiar do dia.

O céu é o mesmo, mas eu duvido que alguém o enxergue tão belo quanto eu neste momento.

sábado, 14 de novembro de 2009

"E parece que foi ontem..."

Nunca pensei que um dia eu fosse citar a frase do título com tanta propriedade. Não muito tempo atrás eu era apenas um moleque que tinha idéias e planos mirabolantes para mudar o mundo, e cá estou aqui, praticamente terminando um curso superior e me preparando para ser mais um no mundo dos engravatados. É o ciclo natural das coisas: eu quero casar, ter filhos, casa própria, carro, tv e todas essas coisas que a sociedade nos impõe como importantes. Porém, ao mesmo tempo, representa uma lenta morte de todos os meus ideais. A realidade é, de fato, o túmulo das ilusões.

Mas chega uma hora que só ideais não bastam. E você descobre que no mundo nada é ideal, muito pelo contrário. Amores, amigos, família... Nada é tão linear e planejado como pensamos ser. É aí que você descobre que amar - em lato sensu - é mais do que achar o perfeito: é encontrar em cada imperfeição algo ao qual você se afeiçoa. E quando encontra isso, você deixa de ser um reacionário, e passa a ser guiado por interesses de seu meio.

Como diria Roger Waters: "All in all it's just another brick in the wall". Mas, nesse caso, e somente neste caso, os fins justificam os meios.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meu nome não é Zina

Sempre achei o "Pânico na TV" o programa mais politicamente incorreto da TV brasileira. Não pelas brincadeiras de gosto duvidoso que fazem com o Bola, mas justamente pelo fato de que a piada são os ingênuos que, espontaneamente, emprestam seus bordões ao humorístico.

Pois bem, não foi diferente com Marcos da Silva Heredia, o Zina, que ficou nacionalmente conhecido pelo bordão: "Ronaldo, brilha muito no Corinthians". Zina rendeu tanto aos cofres do programa e da emissora que, além de ganhar uma casa, ganhou um contrato na rede.

Não diferente dos outros, o que chamou a atenção em Zina foi o fato de ser um cara absolutamente espontâneo. Louco no termo literal da palavra, o corinthiano conseguia colocar uma frase atrás da outra na boca do pessoal.

Apesar de previsível, muitos se chocaram com a notícia de que Zina é, na verdade, esquizofrênico e viciado em cocaína. Para quem não sabe, a tal Xurupita fica na região da Parada de Taipas, na Zona Norte de São Paulo. Um daqueles locais onde o governo não existe e quem faz a lei é o poder paralelo - aquele que vende drogas. Precisa contar o resto da história?

O Pânico ontem, em uma matéria que ficou na barreira entre a crítica social e o drama, defendeu Zina fazendo sua inocência se tornar escudo pras cagadas que ele faz. Agora, o programa assumiu a missão de dar um tratamento ao anti-herói corinthiano. Que claro, você acompanha todos os domingos, na Rede TV!

De comédia a drama, Zina é audiência garantida.

domingo, 6 de setembro de 2009

A democracia na República das Bananas

Confesso que me espanta tanta repercurssão em relação à crise do senado. Será que alguém realmente pensava que a casa estaria em boas mãos no comando do general Sarney e com ilustres presenças do passado negro do Brasil como Fernando Collor de Melo? Ninguém lembra do confisco das poupanças? Da instabilidade e dos índices de inflação astronômicos?

Sempre que episódios como estes ocorrem, há uma certa mobilização em meio aos críticos, artístas e alguns gatos pingados, oriundos da classe média, para que soluções pontuais sejam tomadas. Conseguindo isso (ou não), nas próximas eleições a democracia coloca no poder, novamente, os mesmos representantes, recomeçando o ciclo.

Do lado que ninguém mostra e ninguém vê, há o cidadão que vive em condições precárias e mal tem acesso aos serviços básicos para subsistir, como saúde, educação e segurança. É ele que vende seu voto por um prato de comida. O pior de tudo é o fato de ser impossível recriminá-lo por isso. Como zelar por um Estado que não se faz presente na sua vida? Como preocupar-se com política, ou com qualquer outra coisa, quando o que mais passa é frio e fome? Seu cotidiano já é deveras desesperador para manter qualquer tipo de outra preocupação.

Nosso presidente, Lula, apoiado por um forte trabalho de marketing, conseguiu associar sua imagem à imagem do povo. Nunca antes na história deste país (sic!) um governante teve tanta identificação com seus governados. Isso abre um largo caminho para a execução de políticas sociais que, em muito, remetem ao populismo. Fome zero, bolsa família, Pro-Uni, política de cotas raciais... São, além de políticas de ajuda, formas de ganhar um eleitorado sempre renegado pelo governo das elites, mas que, na república das bananas é numerosíssimo, infelizmente.

Não escrevo contra as políticas sociais, vejam bem - elas são mais que necessárias, pois a fome não espera - mas há de haver há consciência que só isso não basta, e que não existe nenhum planejamento consistente a longo prazo para a solução destas questões. O planejamento não existe, pois soluções a longo prazo não interessam quando seu prazo de governo é de apenas 4 anos.

Enfim, vejo a necessidade de implantar, em conjunto com tais medidas, um projeto de base para garantir o acesso de todos os cidadãos à, pelo menos, os serviços mais básicos para a sobrevivência. O ESTADO é o único responsável por isso, e, por sua incompetência, assistimos ao crescimento do poder paralelo.

Caso não se tome nenhuma medida neste sentido, continuaremos a ter nossos representantes escolhidos por aqueles que são completamente influenciáveis por sua (falta de) condição. E assim se mantém a nossa democracia de fachada.