segunda-feira, 16 de março de 2009

Ditadura cultural

Ontem à noite, a APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música) fechou a 'Discografias' - maior comunidade para troca de arquivos musicais do Orkut. Em comunicado oficial - que pode ser acessado neste link - eles dizem que a comunidade ignora 'todos os canais legais de divulgação e uma cadeia produtiva de compositores, autores, cantores, produtores fonográficos e etc.'

Agora, analisemos com calma. Quem é do meio musical sabe que, os artistas em geral, ganham pouco ou quase nada com a venda de CDs; vendas essas que estão cada vez mais em baixa. As gravadoras, então, adotam cada vez mais a política de reter o lucro dessas vendas, fazendo com que a maioria dos artistas sobrevivam apenas de seus shows. Insistem, então, no manjado discurso de defesa cultural.

Mas alguém acredita realmente nas boas intenções destas associações? Eles fazem exatamente o contrário do que pregam. Eu me pergunto, amigos, onde está a cultura que eles tanto falam? Nos cds de pagode, sertanejo e axé que eles vendem? Ou talvez nos cds do King Crimson, Tribal Tech, e para ilustrar exemplos nacionais, Egberto Gismonti e Eumir Deodato? Estes álbuns, meus caros, vocês sequer encontram nas prateleiras das lojas. Se você quiser um disco do Eumir Deodato, terá que chegar ao cúmulo de importar de fora, mesmo sendo ele um artista brasileiro. Cadê a defesa à cultura?

Como todo bom apreciador de música e ouvinte, sempre compro álbuns de meus artistas favoritos, até mesmo quando não existem edições nacionais e é necessário importar, pagando-se um absurdo. Pois bem, já que não distribuem certos cds aqui, me sinto no direito de ouvir antes de efetuar a compra. Sinceramente, vejo as coisas por outro lado: a internet ajuda, e muito, a descobrir novos artistas. Muitos cds, os quais eu adquiri, não teria sequer conhecido, se não fosse pela ajuda da grande rede.

Então, eu questiono: é justo utilizar dos tais meios legais, que só ajudam a incentivar o monopólio dos grandes e massacram os pequenos artistas? Eu penso que não, e acredito ser sórdido utilizar de tal artimanha legal para defender tamanha injustiça.

Enfim, me pergunto então o que as gravadoras estão fazendo, nos ditos canais legais, para divulgar a tal cadeia produtiva de compositores, autores, cantores e artistas, que eles tanto falam. O que eu mais vejo sendo promovido por eles é o descaso com a cultura no Brasil, que insiste em deixar às traças tudo o que temos de bom e original, e vendem porcarias como pagode e sertanejo. Eles precisam mudar o discurso porque, com essas atitudes, eles só agem em defesa aos próprios bolsos. Que assumam isso então. Evitaria nossa perda de tempo com tanta prolixidade e discurso vazio.

terça-feira, 10 de março de 2009

O casamento do fenômeno

Há um tempo atrás, mas não muito, os jornais destacavam o caso de um famoso jogador de futebol, que foi encontrado em um quarto de motel com três travestis. Nem é preciso dizer que estou falando de Ronaldo, o 'fenômeno', que, meses mais tarde, apareceria em fotografias exageradamente gordo para um atleta, vide foto ao lado. O sentimento de vergonha e frustração foi disseminado entre os brasileiros, afinal, Ronaldo marcou toda uma geração; não só no futebol - onde é tido como o maior craque dos últimos anos - mas sua vida pessoal sempre foi marcada por lindas mulheres e muito dinheiro. A mídia não perdoa, e o garanhão é rebaixado a piada nacional.

Pois bem, meses mais tarde, o jogador - já desacreditado na Europa - volta a atuar em seu país de origem, em um grande time que também vive uma fase de recuperação - o grande em torcida, nem tanto em títulos, Corinthians. Apesar de vista com certa desconfiança, a contratação traria, inquestionávelmente, lucros para o clube, ainda que não vingasse no campo; já que ali estava em jogo a marca, mundialmente famosa, do futebolista.

Ele volta a jogar, em um grande clássico - o maior clássico da maior cidade do país. Corinthians x Palmeiras. Entra em campo aos 18 minutos do segundo tempo. A expectativa era grande. O craque faz boas jogadas - dá uma bolada na trave, o que não é exatamente uma novidade para ele - mas enfim, de qualquer maneira, em campo, ele é incontestável, apesar da visível má forma física. Ronaldo tem tanta intimidade com a bola que, por vezes, se confunde com ela no campo.

O jogo caminha para seu final quando, de repente, nos acréscimos, mais precisamente aos 47 do tempo final, ele cabeceia e marca o gol. Nada mais importa. O narrador esquece o jogo e começa a falar dos dramas e contusões vividas por Ronaldo. Seu gol passa a ser o símbolo de sua volta por cima, de sua superação. Seus erros são todos irrelevantes, seu talento está acima de tudo e sua palavra é uma benção para os novos jogadores. Amém.

Fica claro que Ronaldo se transformou em, além do fenômeno do futebol e das presepadas, no maior anti-herói brasileiro do momento. E os jornais esportivos e a mídia em geral possuem um grande papel nisso. Lembrem-se que a TV faz a vida de qualquer ex-BBB parecer interessante; que dirá a do fenômeno.

Muito se falou em casamentos do fenômeno em castelos, mas mal sabem que isso tudo é uma grande fachada pro maior casamento, que já ocorreu. O casamento dele com a mídia que, não fugindo à regra, vive entre tapas e beijos, regados a muito champagne. A vida do vingador dos balofos se transformou em uma novela mais rentável que os dramalhões de Suzana Vieira. Para novelizar ainda mais a vida do craque, só falta o jogarem no meio da casa do Big Brother. E eu não duvido mais de nada.